O
Estado não é um prolongamento da família, ao contrário do que pensam alguns
Por Michel Zaidan, em artigo enviado ao blog do Jamildo
Estava eu retornando de uma reunião de trabalho com a
diretoria da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do estado de Pernambuco
(FETAPE), quando fui surpreendido com gritos de um motorista na rua, que acenava
para mim perguntando o que achava da nomeação do infante João Henrique para o
cargo de secretário de governo. Certamente não foi por necessidade econômica do
órfão de pai.
Além da pensão por morte, o jovem desfruta de uma
situação familiar confortável. Então, qual seria a motivação do governador em
nomear o filho do falecido Eduardo Campos para a sua assessoria? – Não deve ter
sido em função de suas qualificações profissionais e da pouca idade e
experiência que o jovem possui. Também não deve ter sido pelo bem do estado de
Pernambuco e dos pernambucanos. poderia ser uma digna apoteose do recente
carnaval que homenageou a figura de Miguel Arraes e seus descendentes.
Dizia Ariano Suassuna – amigo íntimo dessa família- que o
povo brasileiro tinha uma enorme nostalgia da monarquia portuguesa, seus
títulos nobiliárquicos, seu fausto e brilho. Que , no fundo, todos nós éramos
monarquistas disfarçados de presidencialistas imperiais. Mas a monarquia
arianista era de carnaval, meramente simbólica, uma encenação digna de um
teatro mambembe, que ele tanto admirava.
O problema é quando a fantasia pula dos romances armoriais
e das troças carnavalescas diretamente para o Palácio do governo e assume cargo
e contracheque, às custas do erário público. Será que o senhor Paulo Henrique
Saraiva Câmara não se dá conta do simbolismo dessa nomeação? – Acha que ela é
um fato corriqueiro, natural (talvez, numa gestão familista) que não chama a
atenção de ninguém. Logo ele que foi recrutado do Tribunal de Contas do estado,
que tem por tarefa fiscalizar as contas da administração pública?
Pode não ser, mas essa nomeação de um filho do falecido
governador, responsável direto pela eleição do atual governador e do atual
prefeito da cidade do Recife, pode parecer uma troca de favores, uma
retribuição à família enlutada pelos extraordinários esforços realizados para
sua eleição, quando ele era ainda um mero técnico e analista de contas do
tribunal do estado.
Poderia ser também uma forma de se criar um trampolim
político para catapultar uma futura e vindoura candidatura às eleições
municipais deste ano. Mas há, também, uma hipótese irrecusável que anda de boca
em boca na cidade do Recife: assim como a ma triarca do clã, a ministra-mãe,
vem envidando todos os esforços para transformar o seu filho em prefeito de
Olinda (pobre Olinda!), a mãe do infante P. Henrique deve ter recorrido à
cota-parte de que desfruta nesse reino armorial para emplacar a carreira
política do filho.
Esta hipótese não é de todo descabida, pois entre os
herdeiros do espólio eduardista ela detém muito poder. Não parece. Mas tem. E o
seu poder de persuasão não é meramente dialógico ou discursivo, é bem mais
eficiente do que isso.
O estado de Pernambuco tornou-se um botim disputado pelas
várias facções e grupos remanescentes com a morte do ex-governador. Nem todos
os competidores têm o mesmo poder. Uns o conservam por linhagem dinástica, de
sangue, de parentesco – próximo ou distante. Outros, pela subserviência, pela
fidelidade canina ou de interesses. Há, ainda, os espertos e malandros de
sempre, farejando vantagens aqui e ali.
Por quanto tempo, os pernambucanos vão tolerar o domínio
dessa oligarquia?
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